Estou escrevendo este texto em um vôo entre Fortaleza e São Paulo.
Voltei temporariamente ao Brasil, após mais de um ano nos Estados Unidos, para participar de um congresso. Daqui a dois dias, estarei embarcando de volta para Nova Iorque, para ficar por pelo menos mais dez meses, talvez mais.
Vir ao Brasil, como era de se esperar, foi como voltar para casa. Mas, de forma inesperada, voltar para Nova Iorque também parece, de algum modo, um retorno ao lar. Por outro lado, quando penso mais profundamente sobre o que significa voltar para casa, às vezes me pergunto se eu ainda tenho, de fato, um lar para onde retornar. E quando digo isso, há tantas camadas, tantos significados entrelaçados, que é impossível traduzi-los por completo. Talvez ninguém que leia este texto consiga realmente captar tudo o que quero dizer.
O Brasil, e mais especificamente São Paulo, foi onde nasci e vivi toda a formação da minha identidade. Minhas raízes estão aqui. A forma como aprendi a entender, sentir e existir no mundo foi moldada pelas experiências que tive aqui.
Qualquer um pode imaginar o quanto isso carrega de nuances, de histórias, de pertencimento. Mas, embora eu ame e tenha integrado à minha essência muitos aspectos da cidade, os lugares que gosto, o ritmo apressado, a frieza e até certa amargura dessa metrópole tão intensa, nada disso é o mais importante quando penso em lar.
Pensar em lar me remete à ideia de segurança emocional e acolhimento. Um lugar onde você pode repousar o coração. E isso me leva diretamente a pensar em pessoas, em conexões. E acho que, pra quem lê este blog há algum tempo, já está claro o quanto acredito na importância dos vínculos afetivos.
Antes do congresso, passei duas semanas em São Paulo para renovar meu visto americano. Nesse período, pude rever minha família e meus amigos mais próximos. O acolhimento que recebi de cada um deles foi uma das experiências mais preciosas que já vivi.
Eles mudaram suas agendas, reorganizaram seus dias, só pra me ver, mesmo com minhas limitações de tempo. Eu amo meus amigos, profundamente. Uma parte enorme do meu coração está aqui no Brasil com eles.
Mas, de algum modo, outra parte também ficou em Nova Iorque. Mesmo que o tempo vivido lá seja tão menor que toda uma vida em São Paulo, há memórias significativas o suficiente para desequilibrar essa balança emocional.
Outro ponto é que lar também tem a ver com perspectiva. Nova Iorque não me oferece segurança emocional, pelo contrário, mas carrega promessas. E, de alguma forma, isso convence o coração de que lá também pode ser um tipo de lar.
Assim, o coração parece se dividir entre dois lugares, tentando entender onde pertence. E, em meio a essa divisão, às vezes perde a base, perde a noção clara de pertencimento.
É nesses momentos que surge a sensação de não ter realmente um lugar pra voltar. Um lar que acolha completamente a alma. Porque, onde quer que eu esteja, uma parte de mim sempre vai sentir falta do outro lar.
Como diz Jorge Drexler:
“Tão importante quanto saber de onde viemos é entender que somos de nenhum lado por completo, e de todos os lados um pouco.”
Daily post
These days during the conference were the best in a long time for many reasons. I met some colleagues, my PhD advisor (even today he keeps supporting me 🥹), my current postdoc supervisor (he is so great... I felt my heart lighter after meeting him), and professors that I have so much admiration for.
My cousin also attended the conference. We presented our project together! Having her, such a good friend, here in Brazil, getting to know my roots, made me feel truly happy. We also had time to have some fun there. I will always keep these memories in my heart! :)
Post-scriptum
Decidi escrever algo mais simples dessa vez, apenas pra colocar um pouco pra fora o que venho sentindo. Poucos terão o contexto pra entender, mas minha vida está um pouco caótica e cheia de mudanças.
Mudanças que trazem medo e insegurança, que reforçam essa sensação de não ter um porto seguro, um lar emocional. Que reforçam a necessidade de saber se apoiar no chão com os próprios pés e manter equilíbrio com as próprias forças.
Há uma série de decisões difíceis pela frente, sem garantias de que sejam as certas, apenas com a certeza de que precisam ser tomadas e que, inevitavelmente, vão trazer dor e culpa.