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sábado, 12 de maio de 2018

Saudades, parte I

Eu gostaria muito de, hoje, escrever algo interessante, divertido ou genial. No entanto, nos últimos dias tudo que tenho sentido é uma melancolia por conta da ausência das pessoas queridas.

Não estou me sentindo sozinho, solitário. A questão não é essa. Desde que me mudei para Nova Iorque - cerca de 7 meses atrás - conheci muitas pessoas, desenvolvi uma boa amizade por alguma delas e me diverti muito. Mas, pessoas, amizades e sentimentos não são diretamente substituíveis. Conversar, me divertir e sair com novas pessoas não cobre completamente a tristeza causada pela falta que as pessoas queridas fazem quando estão distantes.

Viver assim, longe das pessoas amadas, é um desafio diário de balanço emocional. É necessário reagir e buscar um equilíbrio a cada situação. Nos momentos mais complicados, chega a ser difícil se levantar cedo de manhã com todo o cansaço acumulado, pois parece que o esforço não faz sentido se você não tem com quem compartilhar as experiências ao final do dia.

É claro que é temporário, que logo eu estarei com as pessoas que amo. Mas me convencer disso também é uma atividade diária, principalmente quando há tantas outras questões em jogo, como a responsabilidade de manter questões de saúde, logística e financeiras em perfeitas condições. Eu preciso estar na melhor forma para aproveitar ao máximo a oportunidade que estou recebendo.

O desenvolvimento das tecnologias de comunicação abriu muitas possibilidades de se manter conectado aos entes queridos. Posso facilmente pensar em umas cinco formas de entrar em contato com minha familia, namorada e amigos, por meio de ferramentas amplamente disponíveis. Isso ajuda e muito, mas há um lado perverso também. 

Nenhuma dessas tecnologias substitui plenamente o contato analógico com outrem. Estar conectado o tempo todo significa estar parcialmente com as pessoas e ser lembrado disso a cada mensagem, publicação ou videochamada. Isso pode ser frustrante em alguns momentos.

No final das contas, do ponto de vista pessoal, essa é uma experiência de desenvolvimento e madurecimento sem igual. O vazio causado pela ausência abre espaço para reflexão sobre si mesmo e o seu entorno, o que pode levar a uma melhor compreensão sobre seus propósitos e papel no mundo.

Mas, ainda assim, mesmo sabendo de tudo isso, a saudade aperta e machuca.

Daily Post

To be far from the people I love in Brazil hurts a lot sometimes, but, soon I will be with them again. And what about the friends I made here? Probably, after I left NYC I will never see most of them again. I made some very good friends, thus, in a couple of months, it will be really sad to say goodbye. By the way, next week is the graduation ceremony at Columbia University, what also means farewell time. I really hate to say goodbye to the people I care about, but that's how life is, right?

私の日記  

今は2時午前に。僕は眠いだ。すみません、でも寝る必要があります。

Post Scriptum

Eu ando meio melancólico por conta da saudade, mas estou bem. As coisas no laboratório também estão indo bem. Como sempre muito trabalho, mas consegui ajustar meus horários (estou chegando mais cedo em alguns dias da semana) de forma que consigo separar um tempo também para ler e escrever, além do fazer o trabalho de laboratório.

Quase não tenho jogado, assistido séries e desenhado, mas, por outro lado, comecei a frequentar a academia - o que é algo inédito para mim. Ainda sinto que aquele ambiente não faz parte da minha vida, mas fazer exercícios é saudável, não é mesmo?

Ah! Decidi finalmente cortar o cabelo! Meu cabelo até que estava legalzinho comprido, mas o calor está vindo aí, então preferi resolver logo. Por falar nisso, há algumas semanas fui com alguns colegas do laboratório no Sakura Matsuri no Parque Botânico do Brooklyn e foi bem divertido. Deixo uma foto desse dia animado para balancear a publicação. Aliás, equilíbrio é a palavra que resume tudo no momento.

Dia super divertido e com tempo bom no Sakura Matsuri. A direita é uma colega de doutorado da Columbia.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Para que serve o coração?

Essa semana foi tão cansativa, estressante, deprimente, triste, desafiante, empolgante, divertida, alegre e recompensadora. Tudo isso ao mesmo tempo e sem trégua para um respiro. Sentir é uma dádiva e uma maldição ao mesmo tempo.

E é exatamente assim, em meio a tantas contradições, que tentamos entender o mundo e ir vivendo nossas vidas. Basta ter um coração para fazer parte de uma multitude de volúveis peças defeituosas de uma máquina perfeita que trabalha sem descanso, obcecadamente em direção a um destino desconhecido, quiçá sem qualquer significado.

Uma vez li uma série de livros de um consagrado autor de ficção científica, chamado Isaac Asimov, no qual propunha-se a existência de uma ciência, baseada em conceitos de história, estatística e sociologia, capaz de prever o futuro de populações com base no estudo das ações coletivas. No entanto, tal ciência era completamente falha ao tentar lidar com pequenas populações, nas quais ações individuais possuem um peso maior, podendo conduzir a sociedade por um caminho diferente do esperado.

De forma semelhante tal conceito também se aplica, até certo ponto, aos estudos na área que me dedico: É relativamente fácil prever o comportamento de uma comunidade microbiana em um biorreator quando se conhece as características dessa comunidade e as condições as quais ela é submetida. Por outro lado, entender a fundo todas as vias metabólicas de um único indivíduo e antecipar com exatidão seu desempenho é muito mais complicado. E nem estamos entrando na esfera sentimental caótica, tão particular do ser humano.

O grande problema disso, é se dar conta de que, por mais que você possa enxergar um contexto e entender o funcionamento do mundo, você ainda será apenas uma das peças volúveis, caóticas e, portanto, imprevisíveis e vulneráveis.

Com isso, a conclusão é de que há apenas duas opções: (i) abdicar dos sentimentos e se tornar um ser completamente racional, no controle de sua própria vida. (ii) admitir que a vida, o universo e tudo mais tende, intrinsecamente, à entropia crescente e não há nada que você possa fazer para impedir isso.

O problema da primeira opção é que ela é meramente uma ilusão.  A segunda opção, por sua vez, pode ser aterrorizante demais para algumas pessoas ou empolgante para outras, mas, certamente, é  a maneira mais emocionante de se viver.
 
Recentemente decidi voltar a desenhar. Foi uma boa decisão, senti falta de desenhar nos últimos anos.

Daily post

I am so tired, but I will write some more words here. I feel I have never been so connected to my feelings as I am nowadays. It can be completely scary sometimes, especially when I realize I absolutely cannot control my feelings and, sometimes, I cannot even foresee what is coming in my heart or how I will react to something. Definitively, I am more sensitive now and this is so tiring…

The good is I am learning more about a part of myself that I never really understood. In the past, I used to read some shoujo mangas to learn more about feelings. I am not sure it was a good strategy. Probably not. So, I hope this phase ends well and I become a better person.

私の日記

私は中国語をべんきょうしている。とてもおもしろいだ、でも難しだね。先生が私の中国の友だちだ。ときどき日本語は中国語とおなじだから、やさしくわからす。

Post scriptum

Já faz um tempo, mas consegui recuperar parte das minhas roupas do apartamento interditado. Ainda tem algumas coisas que ficaram lá que eu gostaria de recuperar logo, mas parece que não vai ser muito fácil. Semana que vem a Nah vem me visitar. Estou tão feliz por isso! :)

No laboratório as coisas estão bastante cansativas agora que comecei a operar 4 reatores ao mesmo tempo. Como faço coletas duas vezes por semana, acabo tendo 20 amostras por semana. É uma trabalheira, mas estou contente. Com a grande carga de trabalho, senti necessidade de voltar a organizar minhas tarefas diárias e, para tanto, revivi minha conta no Habitica. É necessário ter uma certa disciplina, mas é uma maneira bem divertida de se organizar.

Meu personagem no Habitica - conforme você cumpre tarefas da sua lista, o personagem ganha pontos, moedas, itens e evolui.

Em relação ao tema principal da publicação, uma das coisas interessantes dessa fase é que eu sinto que tenho conseguido transmitir ou extravasar meus sentimentos desenhando, por isso escolhi um dos meus desenhos para ilustrar o texto. Escrever também tem sido uma forma de me conectar comigo mesmo e o Rex Aurum tem contribuído muito para isso - desculpe se dessa vez o texto foi mais centrado em mim mesmo, prometo que da próxima vez escrevo sobre algo mais interessante.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Sobre o seu tempo (cuide bem dele)

Eu estava revendo por alto o histórico de postagens do blog e me dei conta de que uma quantidade muito grande de postagens são tentativas de retomar a rotina de publicação. Isso me faz pensar, por que ainda mantenho o Rex Aurum se é tão difícil dar atenção a ele?

A resposta é fácil: valor sentimental. Eu criei o blog há 15 anos, quando eu era um garotinho ingênuo, otimista e cheio de esperanças e expectativas boas com o mundo (ainda há algum resquício disso em mim). Na época, o Rex Aurum simbolizava tudo isso em todos os seus aspectos, desde o nome e visual até o conteúdo simples e alegre dos textos. Com o tempo o blog foi amadurecendo junto comigo, mas nunca deixou de representar, para mim, aqueles sentimentos positivos de uma época mais simples. Por isso, deletar o blog ou abandoná-lo definitivamente parece significar que eu estou abrindo mão ou apagando uma parte importante da minha vida. Não vou fazer isso.

Se o blog é tão importante para mim, por que não dou mais atenção a ele?

Essa é a pergunta certa, mas a resposta não é nada simples. A verdade é que ao longo dos anos fui deixando, cada vez mais, de fazer as coisas que me davam prazeres singelos em prol, principalmente, dos estudos e pesquisa. Não me entenda mal, eu adoro estudar e pesquisar. Poucas coisas no mundo me fazem sentir tão realizado quanto aprender coisas novas. Para mim, aquele momento em que você está lendo os resultados reportados em um artigo científico, compara com os seus e com sua bagagem de conhecimentos e chega a uma conclusão que explica tudo que está acontecendo em seu experimento, é indescritivelmente prazeroso e divertido.

Porém, em algum momento isso se tornou minha prioridade máxima. Colocar a pesquisa como prioridade maior em sua vida pode ser muito cruel, pois ela vai estar lá te cobrando 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem feriados ou férias. Se você não souber conter isso, será completamente envolvido e digerido por ela.

Uma das grandes armadilhas da carreira acadêmica é acreditar que você está fazendo um investimento de tempo e que vale o esforço de abdicar dos outros aspectos da sua vida por isso. "Serão apenas alguns anos e, então, você poderá desfrutar dos resultados que plantou." Todo a estrutura acadêmica vai querer te fazer pensar assim.

Possivelmente você vai colher os frutos sim. Mas, na maioria dos casos, isso vai levar 4 anos de graduação, mais 2 anos de um mestrado, mais 4 anos de doutorado e talvez mais 1 ou 2 anos de pós-doutorado. Você está disposto a abrir mão de 10 anos da sua vida por isso? Eu acho que ninguém deveria estar.

Uma vez, conversando sobre isso, uma amiga disse que a felicidade não é algo que nós vamos alcançar após uma jornada árdua, mas ela é, na verdade, um dos caminhos dessa jornada.

Quando decidi me inscrever no doutorado, também decidi que tentaria levar minha vida de forma diferente, valorizando também outros aspectos da mesma. Sendo justo comigo mesmo e com as pessoas que me amam. Passei a fazer novamente algumas coisas que eu tinha abandonado por “falta de tempo” e dei chance para fazer outras que eu sempre tive vontade, mas que sempre pareceram “perda de tempo”.

O mais interessante disso é que alguém poderia argumentar que eu estou sacrificando, de forma injustificada, parte da minha carreira acadêmica, mas, no final das contas, minha produtividade no doutorado parece ter aumentado em relação ao mestrado. Recentemente eu cumpri uma meta, meio boba, que eu tinha desde quando comecei o mestrado: ter conceito A em todas as disciplinas cursadas na pós-graduação. Mas muito mais do que isso, eu tenho alcançado muitos dos meus objetivos acadêmicos em paralelo aos meus desejos pessoais.



Eu me arrependo por não ter tomado essa decisão antes. Um dia desses escutei que a pior perda é das coisas que nunca tivemos. Acho que faz sentido. É doloroso dar-se conta de que essas perdas são responsabilidades exclusivamente suas por ter deixado as oportunidades passarem e que não há o que fazer para recuperar o tempo que ficou para trás. Hoje, faço o possível para evitar isso.

Daily post

(The text above is already too long, so I am going to write something simple)
In the end of 2017, I decided to watch a “dorama” based on an anime that I really liked: Erased. If you don’t know what a dorama is, the short explanation: Asian soap opera.


Erased anime and dorama comparison. The young actors are pretty good!

I had some bad experiences with Asian (specially Japanese) live action products, such as movies and tv shows based on animes and mangas. Maybe I didn’t know how to choose, but all the material I watched just seemed a fail tentative to directly emulate the mangas with real people. It didn’t work for me.

But, in fact, I liked the Erased dorama (it is not in my top 50 though). After that, the Netflix began to suggest me some doramas and during a solitary day I decided to watch a Korean dorama called “Black”. I will try to write something about it in the future, but, surprisingly, I liked it as I have never liked a dorama before.

Black: funny, dramatic, beautiful and dark at the sametime

Looks like 2018 started breaking some of my prepossession. 
A good way to begin, right?


僕の日記

日本語をかきたい、でもとても難しいだ。じかいは日記をかける!:)  


Post Scriptum

Ainda não consegui recuperar minha roupa do apartamento que pegou fogo. Até tentei ir ao apartamento, mas foi a maior confusão estressante. Nem quero comentar. Mas isso significa que vou ter que gastar uma certa quantidade de tempo e dinheiro para comprar roupas novas. Uma colega do laboratório, antes de eu vir pra Nova Iorque, me aconselhou a não trazer roupas e comprar tudo aqui. Acho que não era bem assim que ela tinha imaginado, mas...

Pra compensar o dia que perdi ontem atras das minha roupas, hoje trabalhei o dobro no laboratório. Estou bem cansado, mas consegui manter a organização da semana em ordem. Se eu não tivesse feito isso, eu teria que ir, pela terceira vez consecutiva, ao laboratório no final de semana para coletar amostras e analisá-las.

Apenas para ilustrar o conteúdo principal da postagem, adicionei a canção Epitáfio, dos Titãs. É bem triste pensar na letra da música como um epitáfio, né? Então não deixe isso acontecer!

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Minha experiência com um incêndio em Nova Iorque!

08 de Janeiro de 2018 - Washington Heights -  norte de Manhattan. Alguns dias depois da tempestade que levou a cidade de Nova Iorque a registrar recordes de temperaturas negativas.

Pouco antes das 14 horas. Uma senhora decide usar sua tostadeira. Não se sabe ao certo como, mas devido a um mau funcionamento ocorre uma pane elétrica iniciando um incêndio na cozinha do apartamento, localizado no segundo andar de um dos prédios mais antigos da região. O fogo rapidamente se espalha pelo apartamento e, em seguida, começa avançar para os andares superiores, causando grande comoção.

Inicio do trabalho dos bombeiros
O corpo de bombeiros é acionado e prontamente chega ao local. No entanto, já era demasiado tarde. O fogo encontrava-se fora de controle, avançando andar a andar. Tudo o que restava era uma tentativa de minimizar os danos. Após poucas horas o incêndio alcança o sexto e último andar do edifício. Lá, ele começa a consumir o telhado, que é composto em grande parte por borracha - material altamente inflamável.

Nos semblantes dos moradores há um misto de sentimentos: Tristeza e desespero pela perda dos bens que levaram toda a vida para obter. Ansiedade e esperança na busca por informações sobre o estado de seu apartamento. Medo do dia seguinte...

Telhado em chamas, poucas horas após o início do incêndio
Eu estava trabalhando no laboratório, mais precisamente, analisando padrões em um medidor de íon seletivo, para obtenção de uma curva de calibração de nitrogênio amoniacal, quando, as 14:30, recebo uma ligação. Era a cunhada do dono do apartamento em que eu morava.

Embora ela estivesse tentando manter seu tom de voz calmo, a ansiedade era nítida: 
"Vitor, fique calmo, mas preciso te dar uma notícia. Nosso apartamento está pegando fogo. Tem vários caminhões de bombeiro aqui. Não estão me deixando entrar no prédio. Você precisa vir aqui." Ou foi o melhor que eu consegui entender do espanhol dominicano dela, que ficava mais rápido e desesperado a cada palavra.

Faltavam três padrões (de um total de 14) para serem analisados. A notícia foi sendo digerida aos poucos. Analisei o padrão 12 sem qualquer alteração. Durante a medida do padrão 13, o coordenador do grupo de pesquisa entra no laboratório olha pra mim e diz: "Vitor, reunião as 15:00 na minha sala, ok?". Minha resposta? "Ok, professor". O resultado do padrão 13 ficou um pouco fora da curva. Durante o último padrão recebo a ligação do próprio dono do apartamento dizendo para eu ir encontrar com ele no apartamento em chamas o quanto antes. O padrão 14 ficou fora da curva.

Após me desculpar e desmarcar a reunião com o professor, fui correndo, já desesperado, para o apartamento. Nunca vi tantos caminhões de bombeiro reunidos em um mesmo lugar - pela contagem que fiz por alto na hora, havia pelo menos 11 caminhões.


Vídeo gravado pelo dono do apartamento que eu morava

Tudo que eu conseguia pensar era (1) o que eu vou fazer agora? (2) e se eu tiver perdido minhas coisas no apartamento, o que eu vou fazer? (3) eu estou completamente sozinho nessa cidade, nesse país; (4) preciso ir pro laboratório amanhã.

Vou te poupar dos detalhes. No final tive muita sorte, meu quarto não teve danos e a família com que eu morava foi muito legal comigo, me abrigou com eles em um hotel nas duas primeiras noites e me ajudou a encontrar um novo quarto para alugar, com conhecidos. Vou sentir falta deles.

Tive muita sorte, o fogo não causou danos ao meu quarto

Foi uma experiência bem intensa e que me fez aprender muitas coisas. Inclusive a entender melhor a mim mesmo. 

Essa situação me fez perceber três coisas: 
A primeira: como eu estou sozinho e vulnerável aqui. Eu não tinha para quem pedir ajuda. No dia em que finalmente me mudei para um apartamento novo e a adrenalina abaixou, todo o estresse e solidão desses três meses caíram sobre mim como uma tonelada. Uma das poucas coisas que eu andava fazendo para me manter bem nos dias mais solitários - desenhar - não era possível, pois todo o meu material estava no prédio interditado. Pela primeira vez, desde que estou morando aqui, fiquei resfriado de verdade. Foi difícil.

A segunda: eu consegui lidar com isso. Não foi fácil, não foi sem consequências, não foi sem ajuda, mas eu consegui. No final das contas, me ausentei do laboratório apenas por um dia e meio. Quando voltei, tive que compensar as horas perdidas, mesmo com o cansaço acumulado - na semana anterior eu já estava com trabalho acumulado por conta da nevasca que ocorreu e dificultou o acesso à universidade. Mas deu tudo certo e o estudo, que é o motivo de eu estar aqui, não teve prejuízos.

A terceira: há pessoas boas que se importam de verdade comigo. Apesar de a família, minha namorada e meus amigos estarem tão distantes, e, então, pragmaticamente falando, impedidos de me ajudar, saber que eles estavam preocupados e torcendo por mim, fez com que eu me mantivesse mais positivo. Mas admito que quando minha mãe chorou no telefone, completamente preocupada e triste por não conseguir me ajudar, dizendo pra eu voltar para casa, foi tenso. 

Me surpreendi também com o apoio e carinho dos colegas de laboatório, que me ofereceram lugar temporário para ficar, me ajudaram a procurar apartamentos e sempre perguntavam, todos os dias, se eu estava bem ou precisando de algo. 

A família dominicana também foi muito carinhosa. A Arélis, mulher do dono do apartamento, me disse no dia do incêndio: "Não se preocupe, vai ficar tudo bem, não vamos te abandonar. Vamos te ajudar. Você faz parte da nossa família, é meu filho postiço." Ela foi comigo em um dos apartamentos, negociou e conseguiu um preço ótimo. :)

Admito que esperei em vão pelo carinho de algumas pessoas, mas isso só me faz valorizar mais quem me ama.

Bom, ainda falta mais um pouquinho pra terminar de resolver essa situação toda. Tive que adiar a partida de dois dos meus reatores. A maior parte das minhas roupas, entre outras coisas, ainda está no meu quarto antigo (que não sofreu danos e só ficou molhado) - espero poder recuperar amanhã. Ainda estou me habituando à casa e à família nova, mas pelo menos o apartamento fica mais próximo à universidade (posso ir caminhando tranquilamente em dias menos frios :D).

É, vou ter umas histórias para contar quando voltar para casa. 

--


Post Scriptum

Tive que comprar umas roupas emergenciais até conseguir recuperar as minhas. O padrão de tamanho das roupas americanas são um pouco diferentes do Brasil:

Eu usava ums roupas assim quando era adolescente xD